O setor marítimo é responsável por uma parte significativa das emissões de gases de efeito estufa: de acordo com a International Maritime Organization (IMO), o setor de transporte marítimo é responsável por cerca de 2,89% das emissões globais de CO2.
Diante dos desafios urgentes que enfrentamos para viabilizar um futuro sustentável, a descarbonização tem se tornado uma prioridade global, especialmente em nosso setor. Neste contexto de crescente pressão para mitigar os impactos ambientais, são apresentados tanto obstáculos quanto novas oportunidades ao setor de fornecimento de navios – também conhecido como shipchandler. A transformação de operações visando a descarbonização não se limita ao transporte, mas inclui toda a cadeia de fornecimento, do abastecimento de combustíveis à escolha de produtos e serviços com menor impacto ambiental.
O desafio
Em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU, a IMO estabeleceu em 2023 metas de redução de emissões no setor, com o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 80% até 2040. A meta é um reflexo da crescente necessidade de adaptação do setor às exigências ambientais globais e à busca por soluções sustentáveis.
Ainda segundo a IMO, embora o transporte marítimo seja uma das formas de transporte mais eficientes em termos de emissões por tonelada de carga transportada, o aumento da demanda global por serviços marítimos implica que as emissões também podem crescer, a menos que se adotem estratégias significativas de descarbonização. A redução do impacto ambiental do setor marítimo, portanto, depende tanto da mudança nos combustíveis utilizados quanto da adoção de tecnologias mais eficientes e limpas.
A solução
A resposta ao desafio de descarbonização no setor marítimo envolve várias frentes, desde a escolha de combustíveis alternativos até a inovação em tecnologias de propulsão e melhorias operacionais. Um dos passos mais importantes é a transição para combustíveis mais limpos, como o Gás Natural Liquefeito (GNL), o hidrogênio verde e os biocombustíveis, que são considerados alternativas mais sustentáveis em comparação com o combustível convencional usado atualmente.
O uso de GNL tem se expandido devido à sua capacidade de reduzir em até 20% as emissões de CO2 em comparação com os combustíveis tradicionais, como o óleo pesado. Além disso, o GNL também reduz significativamente as emissões de óxidos de enxofre (SOx) e óxidos de nitrogênio (NOx), poluentes prejudiciais tanto à saúde quanto ao meio ambiente.
Por outro lado, o hidrogênio verde (produzido a partir de fontes renováveis) tem sido apontado como uma solução promissora para a descarbonização do transporte marítimo. Segundo um estudo da International Renewable Energy Agency (IRENA), o hidrogênio pode representar até 5% da frota mundial de navios até 2030, contribuindo significativamente para a redução das emissões do setor. No entanto, sua adoção em larga escala ainda necessita melhor desenvolvimento e estudos relacionados ao custo de produção, infraestrutura e regulamentações.
Além da escolha de combustíveis alternativos, a inovação em tecnologias de propulsão, como os sistemas de propulsão elétrica e híbrida, também é essencial. Estes sistemas, que combinam motores elétricos com motores a combustão tradicionais, oferecem maior flexibilidade operacional, além de permitir uma redução considerável no consumo de combustível e, consequentemente, nas emissões de CO2.
O lugar da logística de abastecimento na redução de emissões
A descarbonização não diz respeito apenas ao combustível utilizado pelos navios, mas também a toda a cadeia logística de abastecimento. O tempo de espera nos portos, por exemplo, tem um impacto direto na emissão de carbono. As embarcações que permanecem mais tempo nos portos consomem mais combustível, resultando em mais emissões. Otimizar a logística de abastecimento, agilizando os processos e evitando o tempo excessivo de espera nas docas, é uma estratégia importante para reduzir as emissões gerais do setor.
Outro ponto relevante é a gestão do fornecimento de produtos sustentáveis para as embarcações, como alimentos e equipamentos com menor impacto ambiental. Empresas que atuam no fornecimento de embarcações – ship chandlers – têm um papel crucial na jornada de descarbonização. Elas não apenas precisam se adaptar às exigências regulatórias, mas também devem ser protagonistas no desenvolvimento e na oferta de soluções sustentáveis para seus clientes.
Estratégias para caminhar em direção à descarbonização do setor são: selecionar fornecedores que compartilhem compromissos de redução de emissões; implementar tecnologias que promovem a eficiência energética; reduzir o desperdício em sua cadeia produtiva; usar embalagens recicláveis e produtos ecológicos; e ofertar produtos originados de processos de produção que respeitem rígidos critérios ambientais.
Além disso, a gestão eficaz de estoques e a otimização da logística de abastecimento, por meio da digitalização e automação de processos, reduz o tempo das embarcações no porto, o que contribui para a diminuição do consumo de combustível e das emissões associadas.
O caminho a seguir
A descarbonização no setor de fornecimento de embarcações ainda é algo desafiador, mas as oportunidades são promissoras. A combinação de alternativas energéticas, inovações tecnológicas e práticas logísticas mais eficientes pode resultar em uma redução significativa das emissões do setor.
A transição para um setor marítimo mais sustentável exige uma abordagem colaborativa entre todos os stakeholders: armadores, fornecedores, autoridades portuárias e organismos reguladores. Com o apoio de regulamentações robustas, investimentos em pesquisa e desenvolvimento, e efetivação de estratégias inteligentes, o setor passa a cumprir as metas globais de descarbonização para um futuro mais limpo e eficiente.
Sua parceira estratégica
À medida que o setor marítimo avança rumo à descarbonização, é fundamental que todos os envolvidos na cadeia de fornecimento se unam para adotar práticas mais sustentáveis e eficientes. A transformação requer a colaboração de todos os stakeholders e o compromisso contínuo com inovações que reduzam o impacto ambiental.
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